Poker de casais
* Coluna Casada / Solteira - Revista TPM - Escrito em Setembro 2006 *
Convidei três casais de amigos, avisei que iríamos apostar dinheiro vivo, e preparei a mesa da sala com uma toalha de feltro e fichas de cassino. Logo que minha amiga chegou, já ficou exposto meu amadorismo: o poker se joga com cinco pessoas no máximo, porque muitas cartas atrapalham as jogadas. Paciência – os casais estavam chegando e eu não podia mandar ninguém de volta pra casa.
Nosso poker de casais era bastante limpinho para os padrões do submundo: havia mini-cenouras e tomatinhos para as mulheres beliscarem, ninguém fumava, as esposas sentavam ao lado dos seus maridos e quando um ficava sem fichas, o outro emprestava algumas.
Nosso poker de casais era bastante limpinho para os padrões do submundo: havia mini-cenouras e tomatinhos para as mulheres beliscarem, ninguém fumava, as esposas sentavam ao lado dos seus maridos e quando um ficava sem fichas, o outro emprestava algumas.
As primeiras rodadas foram café-com-leite, pois metade do grupo não sabia jogar. Minha amiga também fez uma tabela com a hierarquia de cada jogada, para a gente consultar o valor das cartas. Alguém colocou um disco do Chico Buarque, e a concentração era tanta que ele tocou cinco vezes antes que alguém percebesse.
Aos poucos as pessoas foram ficando à vontade, e as personalidades iam se revelando. O marido da minha amiga estava sempre quieto, dizendo que não gostava de jogar. Mas quando apostava alto, sempre tinha um jogo forte e ganhava tudo.
Aos poucos as pessoas foram ficando à vontade, e as personalidades iam se revelando. O marido da minha amiga estava sempre quieto, dizendo que não gostava de jogar. Mas quando apostava alto, sempre tinha um jogo forte e ganhava tudo.
Outro casal estava sentado bem juntinho, e a mulher toda hora perguntava ao marido se seu jogo estava certo. A gente reclamava do ti-ti-ti, pois não era um jogo de comadres. Ela pedia desculpas, mas logo estava cochichando com o marido de novo.
Eu bebi duas doses de uísque com estômago vazio, e sem perceber já ria por qualquer coisa, apostando altas fichas no embalo da disputa, sem ter nenhuma jogada na mão.
Meu marido ficava irritado quando eu fazia uma aposta alta e depois mostrava apenas um par de setes. Mas as fichas só valem dez centavos, eu dizia, rindo de bêbada. Não importa o valor, ele resmungava: é melhor você tomar um café preto.
Lembro de uma noite, quando eu era pequena, em que acordei de madrugada ouvindo um barulho na sala. Levantei de pijama e encontrei meu pai no corredor, voltando de uma festa, apoiando minha mãe nos braços. Ela trançava as pernas e ria à toa, totalmente bêbada.
Lembro de uma noite, quando eu era pequena, em que acordei de madrugada ouvindo um barulho na sala. Levantei de pijama e encontrei meu pai no corredor, voltando de uma festa, apoiando minha mãe nos braços. Ela trançava as pernas e ria à toa, totalmente bêbada.
Foi a primeira vez que a vi desse jeito, e nunca esqueci. Tomei muitos porres quando era solteira, mas este foi meu primeiro porre de mulher casada. Bom que não temos filhos ainda, pois eu não quero assustar nenhuma criancinha perdida no corredor.
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